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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A displicente e arrogante resposta do grande liturgo de Uberaba.



Após publicarmos o artigo “Quem vai rezar em Latim”, de Dom Aloísio Roque Opperman, solicitamos aos nossos leitores que explicassem ao senhor arcebispo de Uberaba suas razões para amar a Santa Missa Tradicional. Em aproximadamente 48 horas, recebemos mais de 50 comentários – a esmagadora maioria de pessoas com menos de 40 anos de idade –, relatando problemas de consciência em relação à liturgia moderna e seu vínculo muito bem fundamentado à liturgia tradicional da Santa Igreja.
Pois bem: o Fratres in Unum enviou, na manhã da última terça-feira (20), esses comentários a Dom Aloísio Roque Opperman, pedindo-lhe que os respondesse com a mesma disponibilidade e sinceridade com que os fiéis se dirigiram a ele.
E eis que, duas horas mais tarde, chega-nos uma resposta completamente displicente do Arcebispo de Uberaba:
Os caros amigos mostram que não entenderam o que escrevi. Espero que procurem ler de novo. Depois disso me disponho a responder, se necessário. Saudações. + Roque scj
Ao que interrogamos de imediato:
Excelência, dessa forma o senhor responde a 54 pessoas que respeitosamente escreveram esses longos comentários? Que pena! Rezamos para que o Menino Jesus quebre a dureza de seu coração.
E então a displicência deu lugar à arrogância. Poucas horas mais tarde, provavelmente movido por esta nossa última mensagem, Dom Aloísio decide “aprofundar” a questão em novo artigo veiculado pelo site da Arquidiocese de Uberaba, que publicamos abaixo (os destaques são nossos):
AINDA SOBRE A MISSA TRIDENTINA
Bento XVI teve um gesto ousado ao lançar uma ponte de amizade  para os católicos tradicionalistas.  Ao abrir, oficialmente, a possibilidade de celebrar a missa no rito de João XXIII (que foi uma adaptação do rito tridentino para 1962), o intento foi diminuir a distância entre esses tradicionalistas e a Igreja de Roma. Uma vez que esse rito litúrgico foi aberto para todos os católicos, resta-nos buscar – através do bom senso – as regras mínimas de uma sadia adesão  a essa possibilidade celebrativa.
Antes de tudo, para quem quiser legitimamente, fazer uso desse rito agora facultado, deveaceitar o valor do Concílio Vaticano II. Os Bispos Católicos, estiveram reunidos nesse magno congraçamento, para analisar a situação da Igreja, e dar as orientações pastorais para os novos tempos. Isso equivale a dizer que, além da missa tridentina, se reconhece a autenticidade da Missa do rito de Paulo VI, oriundo desse Concílio.
Quem quiser fazer uso da celebração eucarística no rito tridentino, deve reconhecer que o rito normal da Liturgia deve ser aquele proposto pelo Concílio, e aprovado por Paulo VI. Esse  rito teve uma evolução longa, a partir do início do século XX, através do Movimento Litúrgico. OVaticano II incorporou suas reflexões, e tornou oficial uma Liturgia que respeitou todos os séculos da história eclesiástica, e a adaptou para os tempos modernos. Portanto, durante o uso normal dessa liturgia não se devem  impor os costumes e símbolos vinculados com o rito de 1962Devem vigorar os costumes relacionados ao rito de Paulo VI.
É desnecessário dizer que o Papa manda mais do que o Bispo Diocesano. Mas os interessados no rito antigo devem reconhecer que o Bispo Diocesano é o grande liturgo de sua Diocese.Portanto, devem ser evitados os confrontos inúteis com a autoridade diocesana, e trabalhar em união com ele. O rito tridentino não é nenhuma atividade clandestina, mas também deve estar em sintonia fina com o Bispo da Diocese.
Dom Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo de Uberaba, MG
* * *
Colocado contra a parede e vendo seus argumentos iniciais serem reduzidos a pó pelos comentários dos leitores de Fratres in Unum, Dom Roque decide então dar sua última cartada, seu último suspiro.
Missa Tridentina, algo próprio de saudosistas? Bem, a quase totalidade de comentários de leitores provém de jovens… Celebrações “incompreensíveis e secas”? Os relatos mostram fiéis que, pelo contrário, não compreendem a aridez doutrinal e espiritual do Missal de Paulo VI.
Bem… Melhor nem tocar mais nesses assuntos, não é mesmo, Dom Roque?
Restou-lhe apenas apelar para o que muitos “interpretam como se fosse o super dogma”, mesmo tendo “um nível muito mais modesto” (Cardeal Joseph Ratzinger, Discurso aos Bispos do Chile, 13 de Julho de 1988): o Concílio Pastoral.
Comentemos, então, os argumentos de Sua Excelência Reverendíssima Dom Aloísio Roque Opperman:
“Uma vez que esse rito litúrgico foi aberto para todos os católicos, resta-nos buscar – através do bom senso – as regras mínimas de uma sadia adesão  a essa possibilidade celebrativa”.
As regras mínimas, Dom Aloísio, são aquelas dispostas no Motu Proprio Summorum Pontificum e esclarecidas pela Instrução Universae Ecclesiae. E elas, comparadas às normas impostas pelos bispos do Brasil, parecem verdadeiramente mínimas. Portanto, o “bom senso” está em seguir as regras e não em criar outras. Até porque o episcopado brasileiro, do qual o senhor liturgo de Uberaba faz parte, não tem bom senso.
“Antes de tudo, para quem quiser legitimamente, fazer uso desse rito agora facultado, deveaceitar o valor do Concílio Vaticano II. Os Bispos Católicos estiveram reunidos nesse magno congraçamento…”
Dom Roque quer que os católicos aceitem o valor do Vaticano II. Mas que valor, Excelência? Aceitar este valor é usar meramente expressões aduladoras como “magno congraçamento”, “mega acontecimento”, tal como faziam os fariseus quando buscavam “surpreender Jesus nas suas palavras”, declarando de maneira dissimulada saber “que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade” (Mt, 22, 16)?
Veremos adiante como a atitude de Dom Roque se assemelha a essa postura farisaica.
“Quem quiser fazer uso da celebração eucarística no rito tridentino, deve reconhecer que o rito normal da Liturgia deve ser aquele proposto pelo Concílio, e aprovado por Paulo VI”.
Dentre as normas emanadas por Roma, e não pelo “bom senso” de Dom Roque, não há nenhuma previsão de que os fiéis devem “reconhecer que o rito normal da Liturgia deve ser aquele proposto pelo Concílio”, no sentido de uma superioridade, preferência, predomínio de um rito sobre outro. Afinal, diz o mega, magno, ultra acontecimento Vaticano II:
“O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honratodos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos”(Concílio Vaticano II – Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, nº 4).
Antes, é o próprio Dom Roque quem deveria dar provas de honestidade e demonstrar sua aceitação do valor (seja ele qual for) do Vaticano II, sendo aberto à forma litúrgica celebrada ao longo das sessões conciliares.
Dom Roque, o senhor aceita o “valor do Concílio”? Como, então, em obediência ao Concílio, o senhor considera “igual em direito e honra” um rito cujas celebrações julga “incompreensíveis e secas”?
O próprio Santo Padre declara, na carta aos bispos que acompanha o Motu Proprio — que não deve ter chegado a Uberaba — que a Missa Tridentina permanece como forma extraordinária “não só porque o diz a normativa jurídica”, fruto, evidentemente, de acordos políticos; “mas também por causa da situação real em que se encontram as comunidades de fiéis”, já que, na opinião de Bento XVI, o rito tradicional “pressupõe um certo grau de formação litúrgica”. Dessa forma, uma das razões, se não a mais importante, de a Missa Tridentina ser tida como “forma extraordinária” é a precariedade da “formação litúrgica” dos fiéis (e ainda mais dos “grandes liturgos” do Brasil!). Curioso: a formação dos fiéis não foi aperfeiçoada, aprofundada, desenvolvida pelo “magno congraçamento”?…
* * *
Não pretendemos esmiuçar os erros grotescos de Dom Roque sobre a “evolução longa” do rito de Paulo VI, “uma Liturgia que respeitou todos os séculos da história eclesiástica”. Há teólogos muito mais capacitados, entre eles o próprio Joseph Ratzinger, que não pensam assim.
Mas suspeitamos que “aceitar o valor do Concílio” seja, para Dom Roque, aceitar as suas próprias impressões e mitos; ele, membro de uma ordem religiosa que gerou para a Igreja do Brasil pérolas de sabedoria teológica como Padres Zezinho e Fábio de Melo…
Passemos, então, adiante.
“Durante o uso normal dessa liturgia [de Paulo VI] não se devem impor os costumes e símbolos vinculados com o rito de 1962”.
Dom Roque estaria condenando as próprias liturgias do Santo Padre? Pois é ele, Bento XVI, aquele que “manda mais que o bispo”, quem está restaurando “costumes e símbolos vinculados com o rito de 1962” e absolutamente abandonados nas últimas décadas!
Foi Bento XVI quem ampliou ou mesmo resgatou o latim nas liturgias pontifícias; ele quem restabeleceu a posição versus Deum e o uso dos sete castiçais e do crucifixo no centro do altar nas missas papais; ele quem restabeleceu a comunhão de joelhos e na boca; enfim, ele o Pontífice que vem implementando, na perspectiva de um “enriquecimento” do novo missal com elementos do antigo [1], “costumes e símbolos vinculados com o rito de 1962”!
E depois vem falar de “distância entre esses tradicionalistas e a Igreja de Roma”! Ainda mais distante está Uberaba! Quanta incoerência!
“É desnecessário dizer que o Papa manda mais do que o Bispo Diocesano. Mas os interessados no rito antigo devem reconhecer que o Bispo Diocesano é o grande liturgo de sua Diocese.Portanto, devem ser evitados os confrontos inúteis com a autoridade diocesana…”
Uma enorme quantidade de pessoas expressa respeitosamente seus dramas a um arcebispo católico. Este, por sua vez, responde com displicência e arrogância. Quem, afinal, cria “confrontos inúteis”?
Ó, grande liturgo de Uberaba, reconhecei o vosso papel de agente garantidor da Missa Tridentina, como prevê o motu proprio, caso os fiéis não a obtenham por alguma impossibilidade do pároco; reconhecei o Magistério da Igreja, que declara que medida papal em favor da Missa Tridentina “deve ser interpretada em sentido favorável aos fiéis, que são os seus principais destinatários” (Instrução Universae Ecclesiae, 7, b); reconhecei efetivamente, e não só da boca para fora, o princípio recordado pelo Santo Padre no Motu Propriosegundo o qual “cada Igreja particular [inclusive a de Uberaba] deve concordar com a Igreja universal, não só quanto à doutrina da fé e aos sinais sacramentais, mas também em respeito aos usos universalmente aceitos da ininterrupta tradição apostólica”; reconhecei, grande liturgo de Uberaba, que “a ordenação da sagrada Liturgia é da competência exclusiva da autoridade eclesiástica; esta reside na Sé apostólica e, na medida que determine a lei, no Bispo” (Redemptionis Sacramentum 14). Reconhecei, pois, que na matéria que aqui tratamos, a lei não vos concedeu competência alguma. Excelência, reconhecei, pois, a vossaincompetência.
Mas que Vaticano II Dom Roque quer que os fiéis aceitem? Antes, que Vaticano II ele mesmo aceita? Restrinjamos a questão apenas ao nível litúrgico:
Promovam-se com empenho, sobretudo, nas igrejas catedrais, as «Scholae cantorum». Procurem os Bispos e demais pastores de almas que os fiéis participem ativamente nas funções sagradas que se celebram com canto, na medida em que lhes compete e segundo os artigos 28 e 30″ (Concílio Vaticano II – Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, nº 114)
Gostaríamos de saber se Dom Aloísio Roque Opperman exerce seu papel de liturgo da arquidiocese de Uberaba na implementação das Scholae cantorum, para a promoção do canto gregoriano. Os uberabenses poderão nos esclarecer na caixa de comentários.
Estaria o Concílio ultrapassado, Excelência? Ou ele é simplesmente um mitológico “magno congraçamento”, um “mega acontecimento” fictício com o qual inescrupulosos brincam à vontade a fim de corroborar suas próprias idéias?
Exatamente quando a discussão sobre os próprios textos conciliares toma corpo em Roma, o “grande liturgo” de Uberaba pretende impor a sua própria versão do Concílio, que nada mais é que a versão de “ruptura” com o passado da Igreja, rechaçada pelo Santo Padre e rejeitada por qualquer católico de bom senso.
Dom Aloísio, como bom bispo brasileiro e fazendo jus às raízes (ou à falta delas) intelectuais dehonianas, provavelmente se insere entre os que desconhecem as discussões teológicas entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, os livros de Monsenhor Gherardini, o congresso dos Franciscanos da Imaculada em Roma sobre o Concílio, os trabalhos de Roberto de Mattei, Cristina Sicardi, Romano Amerio, Enrico Radaelli, bem como todos os agentes contemporâneos que querem lançar na Igreja um sadio debate sobre certos textos conciliares verdadeiramente discutíveis e que são causa da confusão doutrinária, litúrgica e moral que acomete a Igreja desde o “magno congraçamento”.
Ignoram, mas temem o mínimo questionamento daquilo que eles mesmos transformaram em dogma. E querem salvar, a todo custo, o mito pelo qual se apaixonaram. Porém, eles passam, atingem a idade limite para renunciar a seus postos (Dom Aloísio mesmo já deve ter apresentado sua renúncia ao Papa), deixando um rastro de destruição e desolação em suas dioceses. Mas eles têm de se remoer com um fato: a Tradição gera frutos; ela atrai os jovens. Et portae inferi non praevalebunt!
* * *
Mas…  “Quem vai rezar em latim?”. Permanece sem resposta a questão que intitula o primeiro artigo do liturgo de Uberaba.
Tomem-se providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem”. (Concílio Vaticano II – Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, nº 54)
Seja conservado o uso da Língua Latina nos Ritos Latinos”. (Concílio Vaticano II – Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, nº 36)
Os fiéis, Dom Roque, os fiéis!… Reconhecei plenamente, sem restrições, o valor do “magno” Vaticano II!
——
[1] “O antigo Missal é um ponto de referência, um critério – disse [o Prof. Spaemann] um semáforo. […] O Professor Spaemann tem razão: “a reforma da reforma” refere-se naturalmente ao Missal reformado [de Paulo VI] e não ao Missal precedente. […] Portanto, a “reforma da reforma” é uma questão concernente ao Missal de Paulo VI… (Conferência conclusiva do Cardeal Ratzinger às jornadas litúrgicas de Fontgombault, 24 de julho de 2001)

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