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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O V Centenário do Descobrimento da América 1992 - Desfile da Fidelidade



Bráulio de Aragão

Nuvens esparsas acumula­vam-se nos céus da capi­tal paulista, naquela tar­de de sexta-feira, 3 de janeiro. Na fisionomia dos transeuntes, notava-se certo imponderável de expectativa e insegu­rança.

— "Será que vai chover?" pergunta­vam-se muitos, preocupados com as trombas d'água que costumam cair de modo repentino em São Paulo, nos me­ses de verão.

Se o clima físico denotava incerteza, o psicológico não ficava atrás. Há pou­co se transpusera os umbrais do novo ano, e já 1992 surgia carregado de apreen­sões. "Um túnel nos es­pera no final dessa luz", diziam ironicamente os mais pessimistas...

É verdade que a movimentação nas lo­jas era intensa, e que a atmosfera de preocu­pações se diluía um tanto por efeito da bo­nomia habitual dos brasileiros. Por outro lado, como a insegu­rança e a incerteza au­mentam a cada dia num país marcado por crises morais, políticas e econômicas de todo gênero, nosso povo pa­rece ter conseguido a insólita combinação de uma sossegada inse­gurança com uma in­certa tranqüilidade.

Naquele dia, no centro velho de São Paulo, nada fazia crer que alguma novida­de alvissareira viesse alterar o ritmo de vida de uma megalópole moderna.

Apenas uma concentração invulgar de pessoas começava a se formar num ponto importante da cidade. O que será?

No Pátio do Colégio

De todos os lados, homens e mu­lheres, jovens e adultos, afluíam para o Pátio do Colégio, o berço de São Paulo. Sem vozes de comando, como Anjos, por encanto, uma colossal e pacífica manifestação em pouco tempo tomou conta daquela área privilegiada, rica de significado histórico.

Num instante, o cinza da atmosfera poluída cedeu lugar ao rubro de cen­tenas de capas. Ao vento, flutuaram então dezenas de estandartes com o lema Tradição, Família, Proprieda­de, semelhantes aos que já tremula­ram junto à Casa Branca, em Was­hington, e na Praça Vermelha, em Mos­cou, perto do Kremlin, antes mesmo do arriamento definitivo do sombrio pen­dão comunista.

Toques de trompetes, logo seguidos pelo rufar de tambores e bumbos, ecoa­ram pelas extensas galerias de edifícios, atraindo a atenção de todos. Uma parte da cidade parou. As janelas dos escritó­rios e repartições públicas ficaram api­nhadas de gente. Nas ruas, uma multi­dão de curiosos se aglomerou, parecen­do esquecer as incertezas e as preocupações. Até o céu se abriu, e um raio de luz iluminou as fisionomias. Naquele momento, iniciava-se o monu­mental desfile da TFP comemorativo do V Centenário do Descobrimento da América.

"Meu Deus, será que voltamos à Idade Média ?!", exclamava uma senhora ao ver e ouvir a Fanfarra dos Santos, da TFP, cujos componentes trajavam seu uniforme de gala: túnica branca e escapulário marrom, no qual de alto a baixo se destaca uma cruz em forma de espada, a conhecida Cruz de Santiago.

Se os símbolos evocavam o passado, aquele desfile no en­tanto rumava para o futuro. Prova disso é a juventude da maior parte de seus inte­grantes, demonstran­do assim a capacida­de de expansão dos ideais da Civilização Cristã. De fato, ali se concentraram delega­ções de cento e onze cidades da Federação brasileira, e os carta­zes assinalavam a pre­sença de repre­sentantes de dezesseis países das Américas, da Europa, Ásia, Áfri­ca e Austrália.

Sob o Viaduto do Chá

Lentamente, com a solenidade ade­quada às grandes ocasiões, o enorme cortejo partiu, atingiu o Vale do Anhan­gabaú e causou viva impressão aos cir­cunstantes que o observavam de cima, postados ao longo do Viaduto do Chá. Muitos o aplaudiram. Outros, indife­rentes, passavam como se nada vissem. Nem os mais enragés dentre os esquer­distas ousaram vaiá-lo.

"Quem são eles?", indagou uma menina à sua mãe. "Devem ser da TFP, pois só ela é capaz de fazer manifestações assim tão belas!", foi a resposta.

"Viva Fidel Castro!," gritava frene­ticamente um isolado militante petis­ta, que pelo jeito parece ter perdido o trem da História.

Na passarela sob o Viaduto, ouvia-se um grupo de rapazes comentarem admirados a grande formação em far­pa executada pelos jovens da TFP. "Incrível como ainda existe gente conservadora!", aclamava um deles, maravilhado com a beleza policromá­tica da cena.

"Eu não quero só o folheto", dizia outro, dirigindo-se a um Correspon­dente da TFP que distribuía material de propaganda: "vocês não me conse­guiriam também uma capa com o leão dourado?"

Sob o Viaduto do Chá

Na Praça Ramos de Aze­vedo, nas escadarias do Tea­tro Municipal, o desfile fez uma pausa e como por en­canto se converteu nova­mente numa imponente con­centração, na qual a bandei­ra nacional, tendo a seu lado um grande estandarte da TFP, de 9 metros de altura, ocupava o lugar central.

Cânticos, brados e slo­gans reboaram pelos ares. Um deles dizia: "O Desco­brimento da América foi ocasião de alegria e gló­ria para a Igreja e a Cristandade; homena­gem das TFPs america­nas aos Papas, aos Mo­narcas, aos Descobrido­res e aos Missionários propulsores do esforço evangelizador e civiliza­dor".

Ecoou então o inconfun­dível acorde inicial do Hino Nacional, executado pela Fanfarra dos Santos Anjos e ouvido numa po­sição de respeito.

Um discurso histórico

O encerramento do desfile deu-se na Praça da República, com um vibrante discurso pronunciado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, de elogio à epopéia dos Descobrimentos e à ação evangeli­zadora da Igreja nas Américas.


Ao se referir à força da Tradição, suas ardorosas palavras alcançaram grande ressonância nos presentes, acendendo nos corações o fogo sagrado da fideli­dade aos valores perenes da Civilização Cristã. Por isso, bem se poderia dizer que aquele magno evento teve por nome: Desfile da Fidelidade.

Tal era ali a identidade de princípios e sentimentos com o passado católico que, do fundo dos séculos, pareciam soprar uma vez mais os ventos de he­roísmo e dedicação à Santa Igreja que outrora enfunaram as velas das naus de Colombo e de Cabral. Ventos da Histó­ria que continuam a soprar e a impelir rumo ao terceiro milênio os estandartes da Tradição, Família e Propriedade!

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