Plinio Corrêa de Oliveira
O entusiasmo provocado pela recuperação das Malvinas fez com que a opinião pública de nosso País deixasse passar de forma inadvertida várias circunstâncias fundamentais que importa destacar, pois são de vida ou de morte para todos os argentinos que amam deveras a Pátria.
1. Se bem que o ato de soberania territorial sobre o Arquipélago seja importante, muitíssimo mais o é a sobrevivência de todo o País como nação independente do influxo e mesmo da tirania comunistas. A questão comunismo-anticomunismo é infinitamente maior que a questão das Malvinas.
2. Se para conservar as Malvinas, a Argentina vier a se aliar com a Rússia ou a aceitar o apoio militar russo, teremos perdido muito mais do que ganho, pois a intenção óbvia da Rússia consiste em impor, mais cedo ou mais tarde, um governo-títere a nossa Pátria.
3. Há vários indícios de que a Rússia procura atrair nessa direção o Governo e a opinião pública de nosso País. No comunicado de 7 do corrente, já mencionamos como antecedentes a compra pela Rússia de quase 80% de nossos cereais, a assinatura de tratados sobre questões nucleares, a presença de submarinos soviéticos em águas próximas à Argentina e o oferecimento da embaixada russa de nos prestar auxílio militar. A estes indícios se junta agora o silêncio oficial guardado sobre o assunto, apesar das notícias internacionais (ver, por exemplo, "El Dia" de Montevidéu de 7 do corrente, em primeira página: "URSS ofereceu ajuda militar à Argentina e seus submarinos se manteriam vigilantes na área"). Assim, um desmentido do Governo referente a qualquer tipo de compromisso com a Rússia — o qual há tempos se vinha fazendo necessário — toma agora, a nosso ver, caráter de urgência.
4. Se a Rússia intervier do lado argentino, é quase certo que os Estados Unidos intervirão do lado inglês, desencadeando-se assim o jogo de todas as alianças. A III Guerra Mundial ter-se-ia desatado por causa das Ilhas Malvinas. E a Argentina formando parte do bloco soviético!
5. Essa situação criaria um problema de consciência para todos os argentinos, que em sua imensa maioria são católicos. Jamais poderiam eles aceitar uma aliança com a Rússia, e, pelo contrário, seu dever é resistir a ela, sob pena de pecado contra o primeiro Mandamento da Lei de Deus: amar a Deus sobre todas as coisas. Se por amor à integridade territorial da Pátria se aceitasse uma coalizão com os comunistas — que são inimigos declarados de Deus — se estaria afirmando implicitamente que a Pátria vale mais do que Deus. O que é uma blasfêmia intolerável. Os argentinos católicos deveriam, portanto, se opor por todos os meios lícitos a essa aliança. A Argentina, ou será católica ou não será. Com ou sem Malvinas.
Deus, que deu à nação argentina todo o seu território continental —invejado pelo mundo inteiro por sua fecundidade e extensão — veria que nos aliamos com os inimigos dEle, só para tornar efetivo, neste momento e sem tardança, um direito sobre as Ilhas Malvinas, que, por outro lado, ninguém nos pode negar.
6. É sintomático que até os terroristas "montoneros", com a assinatura de Mario Firmenich, tenham apoiado o Governo a propósito da recuperação das Malvinas. E, em entrevista à imprensa, afirmem que desfilarão na Plaza de Mayo, na manifestação convocada pela Rádio Rivadávia, para demonstrar sua "solidariedade militante contra a agressão imperialista dos conservadores britânicos" (cfr. "Jornal da Tarde" de São Paulo de 10-4-82). Políticos e líderes sindicais peronistas são conduzidos pelo Governo às Ilhas Malvinas como personalidades dignas de tal honra, e também o apoiam. Cumpre lembrar o papel que coube aos peronistas no crescimento do terrorismo, as medidas socializantes com que arruinaram a convivência e a economia nacionais, e o fato de que foram necessárias duas revoluções para os desalojar do Poder. Em vista disso, o presente gesto do Governo, em consonância com as declarações dos próprios peronistas e dos "montoneros", faz recear que, a exemplo do que sucedeu na Rússia de 1917, os eventos bélicos sirvam de ocasião para que se implante no País um governo de esquerda. O qual, por outro lado, seria amplamente favorecido pela Rússia, se tivermos a desgraça de ser apoiados por ela no conflito com a Inglaterra.
7. Os integrantes das Forças Armadas argentinas, que em sua imensa maioria são católicos e anticomunistas, estão sendo arrastados a esta situação sem saída, envolvidos numa atmosfera de entusiasmo patriótico.
Rogamos a Deus que na lúcida e patriótica reflexão das Forças Armadas estejam inteiramente presentes, na atual tensão, as considerações que acabamos de lhes apresentar, bem como a todo o País. Pedir-lhes esta ponderação num momento de tão nobres ardores patrióticos de nenhum modo importa em pedir-lhes que debilitem seus esforços na defesa da Pátria, mas, pelo contrário, em revigorá-los contra seu inimigo mais profundo e terrível, que é o comunismo. O patriotismo que conduz à cegueira e ao suicídio não é patriotismo. É uma paixão manipulada por quem a provoca com objetivos friamente calculados.
8. A TFP pede ao Governo e às Forças Armadas que não permitam que esta situação, que pode facilmente tornar-se calamitosa, continue. É necessário esgotar todas as vias nobres e honestas que se nos apresentem para chegar a um acordo com o governo dos "conservadores britânicos" — tão odiados pelos "montoneros" — que ressalve nossos direitos, mas sobretudo preserve a Argentina do comunismo. E também preserve contra qualquer divisão a aliança ocidental, pois essa divisão poderia dar ensejo não apenas a uma ação comunista em nosso País, como a um debilitamento irremediável da referida aliança.
Os responsáveis por muitos atos de entrega em face do comunismo, começando por Yalta e terminando pela Rodésia, talvez não o deplorem tanto. Mas na questão crucial de nosso tempo — a confrontação mundial comunismo-anticomunismo — nossa militância anticomunista deve ir além do entreguismo das grandes potências (que, diga-se entre parêntesis, em muitos outros pontos usam de rigor contra seus verdadeiros amigos, mas não contra a Rússia e seus aliados).
Se nos atrevemos a enfrentar a Inglaterra por amor às Malvinas, não nos atreveremos a rechaçar as ofertas da Rússia por amor a Deus?
9. O Governo deve denunciar os numerosos tratados firmados com os países comunistas, que em seu conjunto sempre redundam em decepção e prejuízo para os países contratantes; e adotar uma política exterior de enfrentamento do comunismo, especialmente no continente americano. Se assim o fizer, por fidelidade à Lei de Deus, é provável que se consolide a reconquista das Malvinas e muito mais, porque também valem para as nações aquelas palavras de Nosso Senhor: "Buscai primeiro o Reino de Deus e sua Justiça, e todas estas coisas vos serão dadas de. acréscimo" (Mt. VI, 33).
Buenos Aires, 12 de abril de 1982
Sociedade Argentina de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade
0 comentários:
Postar um comentário