Plinio Corrêa de Oliveira
Uma lição de toda esta efervescência, entretanto, nos ficou. É a artificialidade dessas tensões entre os povos irmãos, que somos todos os da América do Sul. Ninguém se preocupava seriamente entre nós, com essas pendengas territoriais. A maior parte delas dormia semi-esquecida, na penumbra dos arquivos. Foi só a Publicidade pô-las em relevo, e elas começaram a se agitar como fantasmas. Mas apenas a Publicidade afastou delas as luzes, e imediatamente voltaram para os arquivos. O que significa que o melhor de sua consistência era propagandístico.
Entretanto, sem embargo dessa artificialidade, não me parece que tais questões tenham perdido toda a atualidade. Pois a mesma causa que, em dado momento, conferiu atualidade artificial, mas dramática, a essas pendências, pode operar no sentido de as trazer novamente à tona. Dizendo-o, sou coerente comigo mesmo.
Com efeito, afirmei, em mais de um pronunciamento pela imprensa diária, que por detrás do incipiente terremoto diplomático-militar em nosso Continente, havia o empenho da Rússia soviética, em promover várias guerras simultâneas, que lançassem ao caos o bloco populacional católico maior do mundo. Pois ela entraria então com seus tendenciosos oferecimentos de ajuda militar e técnica a determinadas nações: por sua vez, os Estados Unidos se veriam compelidos a oferecer ajuda aos países não apoiados pela Rússia. Assim, o conflito se internacionalizaria. E, ao mesmo tempo, assumiria acentuado caráter ideológico. Tanto mais que, no interior dos países em choque, os comunistas e os anticomunistas entrariam em convulsão para disputar o poder. À guerra continental e mundial se somaria, pois, uma revolução ideológica continental. Guerra e revolução se interpenetrariam rapidamente. E o panorama oferecido pela América do Sul em sangue (e digo América do Sul, e não Hispano-América, porque o Brasil de nenhum modo conseguiria manter-se fora dessa sangueira) seria o de um imenso Vietnã. O resto já se vê.
Qual a base para todas essas conjecturas? É o nexo entre a guerra anglo-argentina e o simultâneo oferecimento de ajuda russa, de um lado, e, de outro lado, o súbito chamejar das dormentes pendências, às quais há pouco me referi. A ter continuado a guerra nas Malvinas, e a se terem agravado até degenerarem em guerras as outras tensões em nosso Continente, toda a América do Sul seria perdedora, e Moscou lucraria enormemente. E se Moscou lucraria, deve-se ter certeza moral de que ela estava por trás de tudo. É assim que raciocinam as polícias para descobrir os autores de crimes. E também os observadores políticos para descobrir autores de tramas.
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Estou persuadido de que a vietnamização da América do Sul é velho plano do qual de nenhum modo abrirá mão Moscou. E se aparecer no horizonte nova complicação política tendente a nos vietnamizar, o presente artigo tem uma utilidade como que notarial, tabelioa. Pois me servirá de prova de que, por detrás dessa nova complicação, desde o início estivera Moscou.
Moscou... o nome da famosa e hoje conspurcada capital dos czares me traz à mente assunto bem outro.
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Assim, o "Jornal do Fapec" previne os viajantes: "É conveniente levar produtos de toucador, principalmente sabonetes, creme dental, desodorantes, etc.", naturalmente pela escassez ou má qualidade do produto em Moscou.
Outro aviso: "Na Rússia as refeições não estão incluídas, devendo ser comprados "cupons" para a alimentação na portaria do hotel". O cupom faz pensar em restaurantes estatais padronizados, para os quais os pobres turistas são distribuídos segundo um critério burocrático. A propaganda nada se atreve a dizer em louvor da qualidade e dos preços do alimento fornecido.
Um aviso enigmático sobre "dinheiro, travellers-checks, e qualquer moeda", bem como "jóias e outros valores", que devem "ser pormenorizadamente declarados... ao chegar à Rússia": "instruções serão fornecidas pelos guias no avião de chegada".
Outro aviso em que aparece a carranca do Estado policialesco: "passeios desacompanhados" (de agentes estatais, bem entendido) "poderão ser realizados somente na cidade onde se está, sem limitações e sem perigo, a qualquer hora". Ai!, pois, de quem viajar fora da zona permitida. Encontrará "limitações" e "perigo". Para reforçar a intimidação, vem uma norma: "As excursões para fora da cidade devem ser programadas pela Intourist", obviamente sob o olho irado e inquieto do poder público.
A carranca estatal se mostra ainda neste aviso: "Não há concessão por parte das companhias aéreas russas" quanto ao excesso de bagagem, o qual deve "ser pago pelo passageiro".
Em suma, nem liberdade, nem despreocupação, nem fartura, nem comodidade. Tal é a Rússia soviética, que se arroga o título de campeã dos direitos humanos no mundo.
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