Shulamith Firestone |
Se o leitor espera, neste tópico, um requisitório contra o homossexualismo – muito merecido aliás – prepare-se para encontrar algo que desce ainda mais abaixo.
Vai encontrar logo de início certo “pirão” dos sexos, no sentido de que o homem seja menos, ou nada masculino, e a mulher, menos, ou nada feminina. Mas este ainda é o princípio da conversa.
Mais radical, a feminista Shulamith Firestone assim se exprime:
“Assim como a meta final da revolução socialista era não só acabar com o privilégio próprio da classe econômica, mas também com a própria distinção entre as classes econômicas, a meta definitiva da revolução feminista deve ser igualmente – diversamente do primeiro movimento feminista – não simplesmente acabar com o privilégio masculino, mas com a própria distinção de sexos: as diferenças genitais entre os seres humanos já não importariam culturalmente”[1].
É claro que para essa nova onda revolucionária a realidade da natureza incomoda, estorva, e portanto deve desaparecer. Mas como se arranjam os caudatários dessa corrente, para obliterar diferença tão óbvia? Veja esta tentativa: O ser humano nasce sexualmente neutro e, a seguir, a influência social faz dele homem ou mulher!
Os seguidores desta corrente percebem que a natureza pediria outra coisa. Mas isto não os inibe: é preciso ir contra a natureza! “O ‘natural’ não é necessariamente um valor ‘humano’. A humanidade já começou a ultrapassar a natureza; já não podemos justificar a continuação de um sistema discriminatório de classes por sexos tomando como base suas origens na Natureza”[2].
Portanto – comenta Dale O’Leary – os que tratam as mulheres com respeito estão tão errados quanto os que as desrespeitam. As duas atitudes marcam a existência de uma diferença. Essa diferença, embora seja natural, deve ser anulada ou ignorada. Ora, respeito é, justamente, o reconhecimento da existência de algo desigual ou diverso. Dentro de um “pirão” não há, nem pode haver, respeito.
É uma tática pós-moderna fragmentar/para fundir. A fim de fundir os dois sexos em um só pirão, essa nova corrente os fragmenta em cinco:
“Rebecca J. Cook, docente de Direito na Universidade de Toronto e redatora da contribuição oficial da ONU na IV Conferência das Nações Unidas, realizada em Pequim em 1995, afirma que “os sexos já não são dois, mas cinco”, e portanto não se deveria falar de homem e mulher, mas de “mulheres heterossexuais, mulheres homossexuais, homens heterossexuais, homens homossexuais e bissexuais”. Assim, as diferenças quase desaparecem.
Essa catadupa de aberrações ainda não é aceita pela sociedade, mas indica o caminho do futuro. Ela leva necessariamente a novas aberrações, e o leitor talvez já adivinhe em que direção estas vão: a tentativa de desvincular o sexo da procriação. Só assim se estabeleceria uma verdadeira igualdade entre homem e mulher:
“A igualdade feminista radical significa não simplesmente igualdade diante da lei, nem mesmo satisfação de necessidades básicas, mas antes que as mulheres – tal como os homens – não tenham que dar à luz”[3].
Quando se conseguir isto, ocorrerá “a destruição da família biológica” e surgirão “mulheres e homens novos, diferentes dos que existiram anteriormente”[4].
Para a instituição internacional anti-vida “Catholics (sic) for a Free Choice”[5], a destruição da família será fato extremamente alvissareiro.
As “feministas de gênero” consideram que, quando a mulher cuida de seus filhos no lar e o esposo trabalha fora de casa, as responsabilidades são diferentes, e portanto não igualitárias. Veem esta ‘desigualdade’ no lar como causa de ‘desigualdade’ na vida pública, já que a mulher, cujo interesse primário é o lar, nem sempre tem tempo e energia para dedicar-se à vida pública.
Vê-se que, para os propulsores do “gênero”, as responsabilidades da mulher na família são supostamente inimigas da realização da mulher. Como fazer para resolver de vez este problema? Com novas técnicas reprodutivas:
“Em sociedades mais imaginativas, a reprodução biológica poderia assegurar-se com outras técnicas”[6]. Cada qual pode imaginar algum novo tipo de fertilização “in vitro” ou de clonagem, feita por uma repartição competente.
Os futurólogos têm-se debruçado com especial empenho sobre esse assunto. Assim, Antônio Polito escreve, sobre o Século XXI:
“Deve-se esperar, sobretudo, a separação definitiva entre sexo e procriação, isto é, a mais extraordinária mudança na história da evolução humana. Carl Djerassi, um dos pais da “pílula”, prevê que a indústria farmacêutica concluirá o estudo do controle da natalidade e preocupar-se-á de encontrar meios de aumentá-la, sobretudo nos países desenvolvidos.[7]
Além de tudo isto, que não é pouco, fala-se cada vez mais em sexo com animais.
Tudo neste tópico remete para uma pergunta: pode o relógio funcionar contra as regras que lhe pôs o relojoeiro? Ou a criatura proceder contra as normas estabelecidas por seu Criador?[8]
Nosso Senhor recomendava que se prestasse atenção aos “sinais dos tempos”. O certo é que dificilmente poder-se-ia imaginar algo de mais radicalmente igualitário do que essa tendência de igualar os sexos, em sentido tão literal e tão ao arrepio da própria natureza.
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[1] Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex, Bantam Books, New York, 1970, p. 12, grifos nossos,
[2] Shulamith Firestone, ibid. grifos nossos .
[3] Alison Jagger, Political Philosophies of Women’s Liberation, Feminism and Philosophy, Littlefield, Adams & Co., Totowa, New Jersey, 1977, p. 14.
[4] ibid.
[5] Católicas pelo direito de escolher.
[6] Heidi Harmann, The Unhappy Marriage of Marxism and Feminism, Women and Revolution, South End Press, Boston, 1981, p. 16.
[7] “La Repubblica”, sexta-feira, 5 de novembro de 1999.
[8] Muitos dados deste tópico foram extraídos de um documentadíssimo relatório da Conferência Episcopal Peruana, intitulado “La ideología de género, sus peligros y alcances”[8].
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