"Muro dos grafitti" |
Mas as surpresas apenas começavam: o exame da parede azul revelou que ela estava coberta de inscrições cristãs de tipo grafite, feitas com estiletes, na maior desordem.
Concluiu-se que eram pedidos de orações dos primeiros cristãos, que punham seus nomes – Ursianus, Bonifatius, Paulina etc. O símbolo codificado de Cristo (as letras gregas chi-rho superpostas, como se vê no desenho ao lado) aparecia várias vezes.
Mas o nome que se procurava não foi encontrado: Petrus. Nenhuma invocação a ele naquela floresta de nomes. Permanecia o indecifrável silêncio sobre São Pedro.
Num ponto dessa parede foi encontrado um pequeno buraco, formado pela queda da argamassa. Inserindo luz pelo buraco, verificou-se que a parte de baixo da parede azul era oca e revestida internamente de excelentes mármores.
No chão dessa cavidade havia muito pó. Parecia ter sido algum túmulo engenhosamente escondido ali. Seria impossível investigar melhor aquilo sem abrir mais o pequeno buraco, o que destruiria as inscrições.
Corte esquemático permite ver o posicionamento
dos túmulos. No nº1 São Pedro
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Logo foram encontradas algumas sepulturas cristãs simples, quase amontoadas junto à parede. Eram dos primeiros séculos. Tratava-se de um tocante indício: todos os corpos estavam voltados para a parede. Eram cristãos enterrados bem junto a São Pedro.
Ao retirar uma pedra, depararam com uma cavidade vazia: afinal, o túmulo! Emocionados, os arqueólogos avisaram [o Venerável] Pio XII, que em dez minutos chegou.
Era uma câmara pequena, mas alta, simples, com paredes de tijolos nus e piso de terra. E estava vazia! Havia sinais evidentes de violência: um nicho e uma trave golpeados violentamente, uma coluneta partida.
Conjunto dos ossos de São Pedro achados no túmulo |
Revolvendo o interior dessa abertura, encontrou-se enorme quantidade de fragmentos de ossos antiquíssimos. Eram mais de 250. Seriam os do Apóstolo?
Em caso afirmativo, por que estavam eles em posição tão secundária e escondidos?
O médico de Pio XII, dr. Galeazi-Lizi, examinou-os superficialmente e concluiu que eram de um homem idoso e de físico robusto, o que correspondia à descrição de São Pedro. Daí ter-se propagado, na ocasião, a versão de que os ossos eram dele.
Mas essa localização estranha exigia maiores pesquisas. As escavações continuaram, revelando que a parede vermelha era a peça chave de um complexo de construções.
Tratava-se de uma edícula comemorativa, no centro da qual havia duas colunetas sustentando uma laje de travertino, parecendo um altar. Em frente situava-se um pátio fechado por altos muros.
Restos do primeiro túmulo construído
para São Pedro
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Como o cemitério era pagão e aberto, ao contrário das catacumbas, as precauções tinham que ser maiores.
Daí a ausência do nome de Pedro e de símbolos cristãos nessa área (é aí que está a parede azul com os grafitos). É esta também a razão do silêncio sobre a localização do túmulo, na literatura cristã da época.
Πέτροσ ένι
Conseguiu pegá-lo dentro do buraco, e viu que havia algo gravado ali à estilete. Levado a especialistas, descobriu-se uma inscrição em grego que dizia: “Πέτρ... ἔνι”.
Faltavam letras no primeiro nome, obviamente Πέτροσ (“Pedro”). Ἕνι é a contração do verbo grego antigo ἔνεοτι, que significa “estar dentro”. A inscrição significava “Pedro está aqui”.
A essa altura, um dos maiores especialistas em inscrições antigas, a dra. Margherita Guarducci, passou a estudar os grafitos da parede azul.
Como se sabe, os cristãos tinham toda uma linguagem codificada de símbolos e letras – o peixe, as letras
gregas chi-rho (ΧΡ), o Μ para Maria, o Ν para vitória etc.
Após algum estudo, a dra. Guarducci descobriu o código usado para São Pedro: um “Ρ” com um discreto “Ε” em sua perna, ou o mesmo símbolo inserido no chi-rho de Jesus, tocante símbolo para o Vigário de Cristo (cfr. desenho ao lado).
Além disso, a descoberta provava contra os anticatólicos que a doutrina do papado já era clara naqueles primórdios da Igreja.
Muitas inscrições com esse símbolo podiam ser observadas na parede dos grafites. Estudos posteriores revelaram que São Pedro era invocado com grande frequência, mediante tal símbolo, pelos primeiros cristãos, pois ele era muito usado nas catacumbas em cartas, em mosaicos, em pinturas etc. Estava explicado o “silêncio” sobre São Pedro.
Grafitti com o chi-rho (ou XP), símbolo de Cristo |
Chamou sua atenção um fato que passou despercebido aos demais arqueólogos. Mons. Kaas, administrador da Basílica, costumava ir à noite verificar os andamentos dos trabalhos. Acompanhava-o G. Segoni, o chefe dos “sampietrini” (operários do Vaticano, cujos ofícios passam de pai para filho).
Mons. Kaas, nessas inspeções, preocupava-se em guardar de modo digno as numerosas ossadas que iam sendo encontradas. Colocava-as numa caixa ajudado por Segoni, identificando com uma etiqueta o local de onde foram tiradas.
Uma noite, pouco depois de descoberta a parede oca dos grafitos, Mons. Kaas pediu que Segoni verificasse bem se não se encontrariam ossos dentro da cavidade.
Por baixo da poeira, Segoni encontrou numerosos ossos, restos de tecido e uns fios metálicos.Tudo foi guardado numa urna e identificado. Outro “sampietrini presenciou a remoção, mas os demais arqueólogos nem souberam disso na época.
continua no próximo post
(Autor: Juan Miguel Montes, “Catolicismo”)
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